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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014


Animados nas coisas de Deus


Na passagem do Gênesis 22, o Patriarca Abraão nos encanta com o dom de acolher as coisas de Deus.
A disponibilidade da fé é o traço marcante do seu perfil. “Pela fé, Abraão, chamado por Deus, obedeceu e partiu para um lugar que deveria receber como herança. E partiu sem saber para onde” (Hb 11,8).
Confiar em Deus amplia as nossas capacidades. É o que reza a sentença latina no livro a Imitação de Cristo: “quid fides currit, volat ,laetatur”: – Quem tem fé corre, voa, alegra-se. Nos torna sábios para encontrar nos acontecimentos da vida, as respostas que buscamos para uma existência feliz; nos faz corajosos para enfrentar as situações difíceis que se agigantam a nossa frente, pois quanto mais perto de Deus estivermos, menores se tornam os problemas, mais realizados seremos naquilo que fazemos; e nos dar posteriormente as batalhas que travamos, a vitória.
Confiante, aos 75 anos, Abraão deixou sua casa e se aventurou em Deus a caminho de uma terra desconhecida e cheia de surpresas. Acreditou e compreendeu que o chamado recebido faria dele sinal de bênção para todos os que crêem em Deus. Porque na dimensão do sagrado primeiro se crer, depois se compreende.
Ele ousou  se deslocar, pois “quem não se movimenta, não vive; não descobre mundos”. Abraão descobriu o mundo de Deus. Uma realidade nova, fértil e repleta de bênçãos, onde as coisas antigas deram lugar as coisas do alto. De cima veio a fertilidade de Sara e o filho da promessa, Isaac e, com ele,  a descendência de Abraão se tornou incontável como as estrelas do céu e areia da praia
O cristão vive buscando as coisas do alto: a vontade de Deus, a graça de Deus, o amor de Deus, a força de Deus e etc. Pois ele sabe que as coisas humanas por mais prazerosas que sejam, são finitas, passageiras e envolvidas de limitações.
Temos sede de infinito, de eternidade e de plenitude. As realizações humanas são inconstantes, flutuantes, liquídas, um dia são, outro não. Nessa insegurança, sabiamente inspirados pela fé, nos lançamos n’Aquele que é maior do que tudo e todos. É como nos ensina a Gaudium et Spes 45: “O Senhor é o fim da história humana, o ponto para o qual tendem as aspirações da história e da civilização, o centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações”.
Animados nas coisas de Deus, caminhamos na esperança de fazer valer a pena nossa vida e a vida dos nossos semelhantes, iluminando com alegria o que está triste, fortalecendo com fé o que está frágil e aliviando com amor tudo que é dor.





Por Pe.Roberivaldo
(Das minhas experiências de Pastor)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014


Uma aventura com Cristo


Vem e segue-me (Lc 5,11). Esse é o forte e suave convite que Jesus fez aos seus discípulos e a tantas pessoas ao longo da história. E continua fazendo até hoje a cada um de nós.
Ele fez a mim. Eu era muito jovem. Reagi igual ao moço da parábola de Mateus 19,16s. Tinha muitos sonhos a realizar. Enquanto eu buscava segurança e comodidade, Ele simplesmente disse: “As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Lc 9,58). Não prometeu garantia material nem um lugar para morar, mas sim o seu estilo de vida marcado pela simplicidade da providência que vem de Deus. 
Sem digerir bem as suas palavras, respondi imediatamente: eu te seguirei Senhor, mas deixe que eu enterre primeiro meus pais. Não sei o porquê da resposta. Talvez estivesse querendo ganhar tempo para amadurecer o chamado ou até mesmo encontrar uma razão que justificasse o meu desconcerto frente a sua proposta. Segui-lo seria viver uma grande aventura, no entanto, a serenidade do seu olhar me fitava e a riqueza do seu chamado me envolvia. O seu silêncio falava a minha alma que era preciso deixar que os mortos se encarregassem de enterrar os seus mortos. Eu deveria me lançar nessa aventura com os vivos, saborear a emoção de viver a plenitude da vida ao seu lado.
 Não resisti, sua palavra me seduziu. Descobri então que viver uma aventura com Cristo é deixar florir o humano sadio que mora em nós. É sugar a essência da vida.  É se perder do mundo. É não embarcar na euforia das futilidades, dos vícios e das paixões abrasivas; é viver sem peso, sem culpa, uma vez que seu fardo é leve e seu jugo é fácil de carregar (cf. Mt 11,30).
 Deixei tudo e o segui. Aprendi no seguimento que aquele que faz uma experiência com Cristo não se arrepende jamais. O espírito do aventureiro Jesus e seu jeito simples de conversar, de explicar os fatos do cotidiano e de iluminar as coisas futuras enche o coração de quem o segue de confiança e plena alegria.
Como diz o Cardeal Van Thuan em seu livro: Testemunhas da Esperança “Já faz dois mil anos – e vai continuar até o fim dos tempos – que as pessoas continuam seguindo os passos de Jesus. Basta lembrar os santos de todas as épocas. Muitos deles fazem parte daquela abençoada associação de aventureiros. Sem endereço, sem telefone, sem fax...!”.
 Se aventurar na companhia de Jesus é se lançar na mais afetuosa certeza de conquistar o Céu. E lá vou eu nessa aventura! Venha você também.









Por Padre Roberivaldo
(das minhas experiências de Pastor

Só Deus e mais ninguém


Essa é uma expressão de fé. A pessoa que a escuta é tomada por uma sensação de leveza e proteção. E quem a pronuncia entrega tudo à divina providência. Confiança  fortalecida pelo que diz (Rm 8,31): “Se Deus é por nós quem será contra nós?”
Uma serenidade muito grande costumava me visitar sempre que seu Damião (in memoriam) participava da Santa Missa Dominical. O autor sagrado do livro dos Provérbios (9,10) diz: “o princípio da sabedoria é o temor a Deus”. Seu Damião era um homem que temia ao Senhor e aprendeu com a fé a ser gentil. Logo após a saudação de despedida dos fiéis, ele vinha com passos lentos, mas, com imensa ternura, me abraçava e com entusiasmo dizia: “só Deus e mais ninguém”. Ao acolhê-la, a alegria invadia minha alma restaurando-me as forças.
A sabedoria daqueles que o tempo enrugou a face e branqueou os cabelos é impressionante. Outro senhor, seu Antônio, da comunidade de Cajazeiras, me presenteou com a belíssima história que ilustra bem a confiança que nasce no coração daqueles que têm: “só Deus e mais ninguém” como guia. Contava-me seu Antônio que havia um homem que em tudo que conversava dizia: “só Deus e mais ninguém”. Esse gesto simples e espontâneo de viver despertou a irritação do seu patrão, que logo pensava: “já não aguento mais essa ladainha... Tenho que arrumar um jeito de armar uma cilada para dar um fim a esse ignorante”.
Certa vez, o patrão chamou o empregado (ignorante) e colocou em prática o seu maldoso plano: “venha cá, tome essa chave de ouro, guarde-a com todo cuidado. Daqui a um mês você deve devolvê-la a mim, caso contrário, darei cabo de sua vida”. Tudo bem meu patrão, “só Deus e mais ninguém”.
O empregado  viajou a serviço e nesse espaço de tempo o patrão mandou alguém ir a casa dele e ofertar um grande valor em dinheiro pela chave. A mulher do empregado, não resistindo à proposta, pois eram necessitados e pobres e vendeu-a.
O patrão de posse da chave atirou-a no mar e soltou a voz: “quero vê agora se àquele ignorante ainda vai ficar com esse blá blá blá de ‘só Deus e mais ninguém’, quero vê!”.
Voltando da viagem, a mulher contou ao marido o ocorrido: “estamos ricos; vendi a chave por uma fortuna!”. E o marido angustiado disse: “mais mulher, o quer fizestes? Eu tenho que devolvê-la amanhã, se não, o patrão me matará. Agora ‘só Deus e mais ninguém! ’”
 Pensativo, cabisbaixo ele saiu e foi pescar. Voltando, entregou o peixe a esposa e disse: “mulher, prepara esse peixe, pois quero morrer de barriga cheia”. Quando ela cortou o peixe, sentiu um ranger, e colocando a mão, para surpresa deles, ali estava à chave. O homem aliviado exclamou: “só Deus e mais ninguém! Só Deus e mais ninguém!”.
No dia seguinte, foi devolver a chave ao patrão e, grande foi o espanto ao reconhecer a chave. A incredulidade dele deu espaço à fé, então se ajoelhou e gritou: “só Deus e mais ninguém!”.
Enfim, esta expressão é um grito de confiança no Criador. Com ela o homem salvou a sua vida, converteu o incrédulo e prosperou financeiramente.
“Só Deus e mais ninguém”!





          Por Padre Roberivaldo
(das minhas experiências de Pastor)
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